domingo, 8 de dezembro de 2013

O que os olhos não veem

        O que os olhos não veem
                                                   Por: Edna de Paula Soares

Um dia meu filho me disse que ao fazer uma prova de vestibular deveria comentar o sobre o livro VIDAS SECAS de Graciliano Ramos. "Sabe mãe, o texto descreve a vida dura de retirantes. Ele descreve como eles viviam. Havia uma cadela chamada Baleia que ficava deitada debaixo do fogão nas cinzas quentes esperando apenas a hora da morte. Então eu decidi escrever sobre ela, a cachorra Baleia. Fiz um paralelo entre ela e os drogados que vivem jogados pelas ruas. Eles são esquecidos e completamente marginalizados como aquele animal, sem esperança, sem objetivo, sem vontade de viver. Vivem esperando apenas a hora da morte". Eu me emocionei com o que ele me contou e me perguntei de onde vinha tamanha sensibilidade e tamanha percepção? Com o tempo percebi que seus olhos viam coisas que os meus ignoravam. Ignoravam por pura inconsciência, por preconceito, por preguiça, por minha educação, pela religião que me ensinou que todos estes “viciados” estão perdidos. E, por perdidos queriam dizer condenados ao inferno. Fui doutrinada a evitar tais pessoas. Nada de conviver com “mulheres de vida fácil”, viciados de qualquer espécie, gente suspeita de não ser honesta. A questão é que nossos olhos não são capazes de ler o coração das pessoas. As vemos apenas exteriormente e as medimos conforme nossos conceitos ou preconceitos. André não era assim. Ele olhava e VIA as pessoas em suas diferentes condições. Seus olhos viam os seres humanos banidos da sociedade e da sorte por detrás dos trapos e das drogas.
Depois que passei a ouvir o que ele dizia percebi que aqui, nesta Terra, nesta vida vivemos o céu e o inferno. Como podemos condenar ainda mais alguém que já está no inferno? Ou será que ao vermos, ainda que pela televisão, locais como a cracolândia não temos a impressão que estamos tendo uma visão de um Umbral, ou um Hadis(lugar dos mortos), ou um purgatório? Por que somos tão indiferentes aos que sofrem? Por que não podemos nem por um instante perceber a solidão de nosso irmão no abandono das drogas? Por que não podemos por um só momento sentir o frio e a fome daqueles que não tem o aconchego de um lar? Por que não ouvimos o choro das crianças abandonadas? Ou até mesmo de animais largados à própria sorte? Somos enfeitiçados para não ver. Somos treinados para ignorar. Criamos desculpas para não perceber. Poucos têm olhos para ver tais verdades e, a estes chamamos loucos. Mas loucura maior é passar pela vida encantados pelo brilho temporário de nossos tesouros ignorando a miséria à nossa porta.

Hoje eu tento praticar o exemplo do André que, na realidade são os ensinos de Jesus postos em prática. Ele dizia: "Quero respeitar TODAS as mulheres, não importa quem sejam. Quero ser gentil para com todos sem distinção". E ainda me dizia com frequência: "Mãe, não julgue a ninguém pois você não sabe o que se passa em seus corações. Não julgue a um drogado ou andarilho, ele nada mais tem e aguarda  apenas a hora da morte." Esse André foi um anjo de luz que Deus pôs em minha vida.


Todas as vezes que cumprimento meus vizinhos pela manhã,  ou faço algo por  um pedinte ou sou amável com alguém que anda sem rumo vejo que estou seguindo seu exemplo. Ele sabia que a vida verdadeira não é esta de desilusões e diferenças  sociais. Nem a vida de descaso pelos que julgamos menos afortunados, nem a vida de disputas que vivemos a cada minuto, mas que a vida verdadeira é aquela que nos iguala e para a qual caminhamos todos, cada qual em seu ritmo, mas sem dúvida todos chegaremos lá.

Está chegando o Natal. Neste dia muitos estarão com frio, fome, desabrigados e necessitados de um sorriso amigo.
Queridos, que neste Natal abramos nossos olhos e vejamos nosso irmão, quem quer que seja ele. Vejamos com nossos corações, com nossa alma. Que possamos dar a nós mesmos este presente, o presente de ver com os  olhos do Cristo. 

Obrigada André, eu sou uma pessoa melhor hoje porque tive você em minha vida.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PAI NOSSO SERTANEJO


           Pai Nosso Sertanejo
                                                Nabor Nunes

Nosso Pai que estás no céu
Seja santo o nome teu
O teu reino venha e faça 
Teu quer e não o meu.
Nosso Pai nós te imploramos 
Que nos dê o nosso pão
Dá fartura pra cidade
Manda chuva pro sertão.

Nosso Pai que estás no céu
Nos ajude a perdoar,
Pois assim é que se pode
Nossa vida melhorar.
Pois devemos perdoar
Ao criado e ao patrão.
Nos ajude a quem tem fome
Estender a nossa mão.


Ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=ROBQ2jFJDoE 



terça-feira, 19 de novembro de 2013

POR QUE MORREM OS NOSSOS JOVENS?

                                           POR QUE MORREM OS NOSSOS JOVENS?

                



                                                                                        Por: Edna de Paula Soares

            As estatísticas são assustadoras. É sabido que somente no Brasil morrem mais jovens em decorrência da violência que o número de jovens em uma guerra, como na guerra do Iraque, por exemplo. O que ocorre com estes jovens? O que os leva à loucura? Por que morrem os nossos jovens? Eles deveriam aproveitar a chance única da vida. Deveriam crescer e envelhecer com normalidade.
            Fui informada pelos zeladores de um cemitério local que normalmente não recebem mais pessoas idosas. Que a grande maioria dos “usuários” estão entre os vinte e vinte e cinco anos de idade. Ela acrescentou como se fosse normal: “Porém outro dia enterramos um senhor de quarenta e cinco anos que se suicidou.” Nesta hora nos perguntamos: “O que estamos fazendo de nossos filhos?” daí alguém afirma: “Meus filhos não. Eu cuido de meus filhos, os outros é que não cuidam dos deles.” Mas a questão é bem mais abrangente que o mero fato de cuidar de nossos filhos biológicos, dar instrução a eles e cobrar para que apresentem resultados magníficos. As sociedades modernas, verdadeiramente injustas estão hoje pagando o preço de suas injustiças, de suas desigualdades e de suas discriminações. Hoje estamos pagando o preço de uma vivencia sem valores morais e sem vínculos afetivos. Esses valores foram deteriorados em função de valores passageiros e materiais. Estamos criando uma geração desiludida da vida e daquilo que deve ser duradouro. Nossos jovens tem pressa como se não houvesse futuro. É que eles não veem futuro no caos social em  que vivemos. Eles não têm capacidade de projetar, de sonhar, de aspirar a alguma coisa. São imediatistas e não admitem a frustração. Quem os ensinou a ser assim?  Lamento informar que você pai, você mãe, você governo, você media, você sistema de comunicação, você família, você escola os ensinou o caminho do suicídio e da tirania. Enquanto lutamos por sermos “iguais” expomos nossos jovens a uma batalha desigual por direitos, por posse e por poder. Não lhes damos tempo para amadurecer. Queremos que venham prontos. Vencedores. Um cidadão ilustre de nascença.  Um gênio de preferência. Não percebemos que o aprendizado ocorre quando confrontamos nossos erros. Não temos paciência para vida. Queremos tudo para ontem. E nesse ontem não há sonho, porque o ontem não existe mais e, o futuro depende do que vivemos hoje. Se hoje não cuidamos de nossos filhos, o que esperamos para eles amanhã?
            É interessante observar nossa moderna sociedade imediatista. Hoje, plantamos jardins já maduros e preferivelmente que exija poucos cuidados.  Não cuidamos mais da “muda” no desejo que ela “vingue” imaginando como será quando estiver florida, sonhando o dia em que sentaremos à sua sombra somente por prazer e relembraremos todo o cuidado e carinho que lhe dedicamos. “O tempo que gastei com minha rosa foi que a tornou tão importante para mim.” Disse Saint-Exupéry. E ele tinha razão. O tempo que gastamos cultivando algo ou alguém é o que faz a diferença porque passamos a conhecer o objeto de nosso carinho. Se não gastamos tempo cultivando nossos filhos, o que teremos para lembrar quando nos sentarmos com eles quando adultos, se chegarem à idade adulta, e olharmos seus olhos desiludidos?
            Nossos jovens estão morrendo de desilusão. De pressa. De cansaço de uma vida que não viveram. Nós pais, nós sociedade, nós humanos modernos estamos sufocando o “broto” antes que dê flor.
            Hoje, amigos, temos a responsabilidade de buscarmos a simplicidade. De aprender com nossos erros, de admitir nossos limites, de amar o que temos, de cultivar nossos filhos com carinho. Hoje temos a obrigação de compreender que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.” Conforme o sábio comenta na Bíblia. Por que temos que nos apressar tanto? Por que temos que  exigir tanta perfeição quando tudo o que existe já é perfeito? Por que temos que ter tanto quando nada do que temos nos pertence realmente e nada levaremos desta vida? Por que temos que ser iguais quando a beleza das coisas está na diversidade e do que fazemos com ela? Nossos filhos não são nossos filhos, mas são o que fizemos deles. Assim devemos pensar se estamos deixando que sejam aquilo que nasceram para ser ou se estão sendo um modelo programado para ser o que nosso desejo torcido e vulgar deseja que sejam.

            Que possamos permitir que nossos jovem vivam o suficiente para saber quem são. Que possam saber o que serão quando crescerem. Que tenham a chance de envelhecer e que saibam que envelhecer é normal.  E, que eu e você possamos lhes dar esta oportunidade.

domingo, 3 de novembro de 2013

Perdas e ganhos

                                   PERDAS E GANHOS


         Nenhuma experiência é vazia, nenhuma jornada é inútil, nenhum sonho é irreal, nenhuma vida é perdida. Tudo se transforma à luz do amor. Tudo se encaminha para o infinito.
            Quando meus filhos nasceram eu gastei horas intermináveis a admirar aquelas criaturas que, ainda que nascidas de mim, um ser imperfeito, eram perfeitas. Eram lindas e puras e tinham uma aura angelical própria das crianças. Traziam também uma sabedoria infinita como se já houvessem vivido milhares de vidas antes desta. Neles eu via Deus, pois eles pareciam um milagre. Como algo tão belo, tão verdadeiro, tão divino pode também ser tão real? E, o que teria eu feito para merecer tamanha bênção? Aqueles seres  perfeitos eram, sem dúvida, o maior presente que alguém pudesse ganhar em uma vida. Eles representavam todos os meus sonhos. E assim, este ganho maravilhoso me ajudou a seguir minha jornada, resumiu minha enorme lista de desejos e fixou meus objetivos na minha missão.
Eu queria tudo da vida. Tudo, absolutamente tudo, mas meu tudo se resumia em poucas e simples coisas: queria apenas meus filhos junto a mim, poder criá-los com dignidade e segurança para a velhice. Estas simples coisas completariam o círculo de minha existência e  me deixaria perfeitamente feliz.  O que poderia pedir a mais? O que faltaria a alguém que tivesse estas três simples coisas na vida? Não penso que eu seja diferente de outras mães. Creio que quase todas compartilhamos o mesmo desejo. Um desejo simples e honesto, aquele que é basicamente a procissão da vida desfilando em demonstração de fé naquilo que se espera.
            Todavia, a vida é feita de ganhos e perdas. Enquanto mãe, abri mão de algumas ilusões e percebi no final que não me fizeram falta. Por outro lado, eu transferia minhas esperanças  e expectativas para o futuro daqueles que agora estavam aprendendo a andar com suas próprias pernas. Ah, a tão sonhada independência! Ela parece linda quando se é jovem, porém quando se é mãe ou pai, a ansiada independência de nossos filhos nos faz estremecer e temos que aprender tudo de novo. Aprender a estar sós, a recomeçar, a ter confiança no que lhes ensinamos, a confiar neles, a depender deles. É um caminho de volta. Não seremos eternamente absolutos, haverá o momento em que nos tornaremos crianças outra vez e então nossos amados filhos serão nossos pais e nossos guias no novo mundo cheio de desafios para nós, mas terra firme para seus pés ágeis e suas asas radiantes. Teremos então perdido o vigor, muito da ilusão, algo dos sonhos e nos contentaremos em assistir maravilhados nossos pequenos anjos realizarem os sonhos que antes nos pertenciam.
            E, se o sonho for interrompido? E, se por alguma razão nos for arrancado dos braços aqueles que amamos?      Quando perdemos um ente querido repassamos a nossa vida. Revemos nossos conceitos, analisamos nosso comportamento, buscamos a fé onde a deixamos. Não há certeza mais definitiva que a certeza de que um dia partiremos, contudo nossa mente ilusória se recusa a aceitar a partida e a sentimos como a maior perda que alguém possa sofrer. Sim, é uma grande perda, porém a partida é também o encerramento de um projeto, de um ciclo, daquilo que, aquele que se foi crê que chegou ao fim. A morte é a entrega de nossas armas, a aceitação final de nossa condição humana, o encerramento da batalha. É preciso ter consciência de que cumprimos aquilo a que viemos para morrer. É preciso desistir. É preciso coragem. Se temos que estar prontos para nascer, temos também que estar prontos para morrer. E, assim do outro lado, fora do útero físico do corpo, nasceremos para uma nova experiência. Logo, a morte não é exatamente uma perda, é uma despedida, é um “até logo, até mais, nos veremos outra vez”. De certa forma há um ganho na morte. Esta perda fatal nos coloca frente a frente com nossos mais arraigados valores e despidos de toda arrogância nos colocamos nus diante de nós mesmos e nos vemos com olhos mais reais. Nos abalamos e nos recolhemos, porém renascemos do luto como a Fênix renasce das cinzas: mais fortes, mais humanos e porque não dizer: mais divinos. Nesta hora abrimos nosso coração, rasgamos nosso compromisso com o rótulo que escolhemos e buscamos a mais pura verdade de nós mesmos.
            Um de meus anjos se foi, mas ele deixou lições preciosas para serem seguidas. Ele ainda me ensina a cada dia e por ele valeu a pena todo o caminho. Agora, vivendo entre o céu e a terra, sei que tenho que me lembrar dos que ainda estão aqui, que seguraram minha mão e que se tornaram a razão para continuar. Essas pessoas maravilhosas que ainda lutam porque não podem morrer, porque não terminaram sua missão são seres preciosos, corajosos que precisam de nossa presença e de nosso amor.
            Queridos, que possamos entregar de coração ao Pai amoroso aqueles que partiram, mas que estejamos atentos para cuidar daqueles queridos que todos os dias nos dão amor e esperança. Eles são ganhos para o momento presente e companheiros para a eternidade.
 
            “Que tua vida amigo, seja sempre para o melhor.
            Que o sol aqueça teu viver
            Que a chuva caia suave no teu lar
            E até nos encontrarmos outra vez
            Que Deus te segure nas suas mãos

            Que o Senhor te proteja e guarde

            Que o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê paz”.

domingo, 20 de outubro de 2013

Project Angels on Duty




projetoanjosdeplantao.blogspot.com.br
Projeto anjos de plantão is a blog created in memory of André Levi Naveiras Soares, who fought depression for ten years. Our desire is to share our experience and help others that feel trapped by this confusing and lonely disease. We are here to listen, to help, to hod your hands. You are not alone.

The name of this project came from an essay written by André when he was only five years old by the request of his teacher. She asked the children to write about professions. He chose to write about medical doctors. He wrote then: "Doctors are angels that God send to us to easy our pain and to help us when we need them". So, for André doctors were Angels on duty.
André at a train station in a city called Liria, Valencia State, Spain.
I took this photo myself at the sunrise. It was a beautiful and cold morning. We were about to take a trian to Valencia. Good times!!!!
Above André modelling for a sport's cloths calendar in Goiânia, Brazil.

sábado, 19 de outubro de 2013

Depois do adeus(aos que perderam entes queridos)



                         
                   

                     Foi um choque violento para mim. Eu tenho que dizer não só para mim, mas para nós, embora em nosso coração algo nos dizia que aquilo poderia acontecer. Conversávamos sempre sobre ele, sobre sua condição de saúde, mas nada poderia nos dar ideia do que seria saber que ele se foi. Na verdade nem pudemos descrever o que sentíamos na ocasião. Era como se estivéssemos em uma outra realidade. A dor era tão grande e intensa que não poderia descreve-la em palavras. Minha querida filha e eu nos sentimos, de repente impotentes, desamparadas, sós. Nos primeiros dias era como se o tempo houvesse parado e a mesma cena acontecesse vez traz vez em nossa mente. Penso que houve um deslocamento de alma. Aliás, penso que todas as vezes que sofremos um choque sofremos um deslocamento de alma. Para mim as emoções são geradas no campo energético, no corpo sutil e não no corpo físico, assim toda nossa estrutura fica abalada como uma árvore arrancada pela raiz. Eu sentia este colapso. Eu sabia que precisava tempo e precisava viver o processo antes de juntar os pedaços de mim espalhados pelo trauma daquele momento.
                    A perda é uma condição tão dramática para o ser humano que chega a ser uma tragédia. É a tragédia da vida: A perda. Não falamos muito dela justamente porque dói. Toda e qualquer perda nos causa sofrimento. Seria, em nossa concepção mais básica, como se a vida fosse apenas de ganhos, mas a verdade é que desde o momento de nosso nascimento começamos um processo de perda. Perdemos o aconchego  do ventre materno, somos desligados violentamente de nossa unidade com nossa mãe e, a partir daquele momento de nascimento precisamos lutar pela vida. Temos que respirar, que nos esforçar por comer, que lidar com as intempéries do ambiente, com a aspereza de tecidos tocando nossa pele e, ainda assim não nos damos conta que a vida é uma sucessão de ganhos e perdas. Ganhos quando nos alegramos com uma nova vida que chega(sendo que esta vida também está em processo de perda, mas parece ganho para nós), ganhos com nossas conquistas passageiras que cedo ou tarde perderemos, ganhos com relacionamentos, que com certeza durarão um período de tempo nesta dimensão, mas que obviamente perderemos algum dia. 
                Se a vida é assim, cheia de perdas, por que sofremos tanto quando perdemos alguém que amamos? por que não nos acostumamos a perder? 
                  Sofremos por apego. Sofremos por pensarmos que somos proprietários daquilo que nos foi emprestado.
                  Me lembro de que numa ocasião em que eu disse a Deus sobre meus filhos: "Deus, eu sei que essas crianças são tuas, não minhas. Eu sei que estão sob minha guarda para amá-las e cuida-las enquanto eu puder. Dê-me portanto condições para cuida-las, Senhor." Ele(ou  a energia maior do Universo) atendeu minha oração e me deu condições para seguir em frente no meu papel de cuidar aquelas preciosas vidas que Deus me emprestou por um tempo e eu fiquei imensamente grata. Mas, quando meu filho se foi eu me senti traída por Deus, como se Ele estivesse tirando algo que me pertencia. Não, ele não poderia ser meu. Ele pertence a Deus ao Universo. Ele sempre foi maior do que eu, do que este mundo. Este mundo não cabia sua alma, como poderia eu querer segurá-lo aqui onde ele sofria tão dolorosamenteEle era(creio que ainda seja e continuará a ser cada vez mais) uma alma nobre. Ele era maior que as pequenezes desta vida e ele ansiava por estar completo como era antes de nascer neste mundo. Então, por que eu queria tanto prolongar seu sofrimento?  Ele sofreu de depressão por dez anos. Tentou ao máximo se curar, mas não encontrou a luz no final do túnel, a única luz que encontrou foi a luz de regresso ao Lar. Nós o amamos tanto que sua ausência revelou uma profunda ausência de nós mesmos. Nos apegamos às suas fotos, embora às vezes sequer as pudéssemos olhar. Apegamos às suas roupas e por muitas vezes farejei suas coisas como um cão perdido fareja tentando encontrar o caminho de volta para casa. Éramos um tripé que, apoiando-se um no outro continuávamos a vida, agora falta um dos apoios e temos que aprender a nos apoiar em outras fontes para continuarmos de pé.
              Mas por que sofremos tanto? Eu já havia lido que para o Budismo o APEGO é a raiz dos sofrimentos: "Nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer, estar unido com aquilo de que não gostamos é sofrer, separarmo-nos daquilo que amamos é sofrer, não conseguir o que queremos é sofrer". Para o budismo, todo esse sofrimento ultrapassa o mero desconforto físico e psicológico ao manchar a existência como um todo. Buda, no entanto, não negou a felicidade mundana, mas reconheceu que não podemos ter a expectativa de que ela dure — esse tipo de felicidade é impermanente, insatisfatória e sem essência.

“Sofremos, não porque somos basicamente maus ou porque merecemos ser punidos, mas por causa de três trágicos mal-entendidos. Primeiro, esperamos que aquilo que está em constante mudança seja previsível e possa ser aprisionado. [...] Em segundo lugar, procedemos como se fôssemos separados de todo o resto, como se fôssemos uma identidade permanente, quando, na verdade, nossa situação é ‘sem ego’. [...] Em terceiro lugar, procuramos a felicidade sempre nos lugares errados. O Buda chamou esse hábito de ‘confundir sofrimento com felicidade’, como uma mariposa que voa para a chama”. Segundo Pema Chödrön,  em Os Lugares Que Nos Assustam

               Eu sei de meu apego às minhas crias. Sei que vivi para eles e por eles. Mas, sei também que sofro da ilusão de que a morte é o fim, de que a separação é eterna e de que eu sou indivíduo separado do todo. Teoricamente eu sei que a morte, assim como o nascimento é apenas uma passagem, que a separação é temporária e que eu e todos nós fazemos parte de um único corpo eterno e eternamente presente. Todavia, ainda que eu tente fazer um "download" desta teoria para minhas emoções minha ilusão humana, racional é forte e me confunde. 
               Queridos, a separação é ilusão. A perda é ilusão, pois não se pode perder aquilo que se É. Se somos parte do mesmo corpo espiritual, estamos separados apenas na matéria, porém unidos quanto à nossa essência Divina. A separação ocorre porque a dimensão na qual vivemos não nos permite ver o que está ao nosso lado em outra frequência. Aquele que partiu apenas se mudou para outra frequência e, quando chegar nossa vez(com certeza chegará) estaremos na mesma frequência outra vez e assim poderemos nos juntar como se estivéssemos aqui. 
                 O ensinamento de Buda é profundo, pois todos estamos submetidos aos princípios universais e não podemos fugir deles. Se somos parte de Deus então como podemos estar separados? Podemos nos desapegar com segurança sabendo que aqueles que passaram por nossa vida cumpriram seu propósito e estão ligados a nós para sempre. Somos um grupo de almas afins e não há separação eterna. É só uma questão de tempo para que nos reunamos outra vez.
                    Sentiremos a ausência, choraremos a saudade, mas não há nada neste mundo que possa mudar a grande verdade de que continuamos juntos nessa teia Universal da existência. SOMOS TODOS UM e como UM continuaremos eternamente.
                    Saiba que seu ente querido está na luz e, na Luz reina apenas a o amor incondicional de Deus, a paz e a aceitação. Na luz não há julgamento, pois julgamento é condição humana. Na Luz existe apenas AMOR.

Que Deus conforte seus corações. E saiba que estamos aqui por você, conte conosco.
Nosso e-mail: associacaoanjosdeplantao@gmail.com  







terça-feira, 15 de outubro de 2013

O pássaro (considerações sobre vida e morte)

       



      Continuo minha jornada ainda sem compreender aonde vai chegar. Creio que nessa viagem o importante é o processo, o caminho, não o ponto de final. Estou tentando apreciar a paisagem, a experiencia e os contatos durante a caminhada. Assim, dia após dia novos detalhes se acrescentam à minha bagagem e outros são deixados  pelo caminho. Quero chegar no final leve, quero deixar para trás tudo aquilo que não necessito. Quero ser despida de meias verdades e saber a que vim afinal.
   Às 11:20 da noite de ontem, um pássaro entrou pela janela de meu quarto e assentou-se em uma caixa que estava em cima do guarda-roupas. Eu estava ainda sentada na cama pesquisando alguma coisa na internet. Olhei-o cuidadosamente. Era pequeno.  Estava pousado tranquilamente sobre a caixa.
“Não devo afugentá-lo.” Pensei. Levantei-me, fechei a janela com cuidado e puxei a cortina e, em seguida apaguei a luz  certificando-me de que ele permanecia ali, no mesmo lugar.
“Se ele se debater para sair mais tarde, eu o ajudo.” Pensei enquanto acostava em meu travesseiro grata por sentir sono.
                Na manhã seguinte procurei o bicho, mas não o encontrei, acreditei que houvesse encontrado alguma saída entre as poucas aberturas da casa.
                Em minha terapia naquela manhã relatei o fato à psicoterapeuta que me perguntou o que significava aquilo.
 “Qual o significado de um pássaro?” me perguntou.
“Liberdade... ?” respondi  insegura.
“Claro!” exclamou ela. “Seu filho sem dúvida quer lhe mostrar que encontrou a liberdade que estava buscando.” Para ela, e de certa forma para mim também, nenhum acontecimento é casual. Especialmente em momentos dramáticos os acontecimentos trazem figuras que compõe a realidade e tratam de dar sentido aos fatos. Fiquei feliz. Será que meu filho estaria em enviando uma mensagem como outros fatos que já haviam ocorrido depois de sua partida?
                Comentei com ela os pensamentos que tenho tido e que me sinto como se houvesse vindo à esta vida para despir-me de preconceitos.
“Sinto que estou sendo descascada.” Afirmei. “Como uma árvore do cerrado, sabe? Essas com cascas grossas. Sendo descascada, esfolada até chegar ao cerne.” Ela sorriu e balançou a cabeça concordando. Foi a imagem que me ocorreu para descrever a sensação de que um a um meus preconceitos estavam se desfazendo, mas à custa de muita dor.
“A dor amplia nossa visão da vida.” Disse ela. “É um aprendizado sim, aquele no qual você passa a ver o outro com outros olhos, que passa a ver o mundo com amplitude e o analisa com pensamentos próprios desfazendo-se de ideias pré-concebidas por outros ou pela sociedade de forma geral.”
              Um das maiores e mais difíceis lições a serem aprendidas para mim é, com certeza a aceitação da inevitável morte. Creio que todos temos problemas e tabus relativos a este tema. É o material proibido, a matéria adiada, a verdade desagradável que deve ser evitada  para não nos tirar o conforto que vivemos no momento presente e para nos desviar de confrontarmos aquilo que é natural e faz parte do que compõe o ser humano.
“Posso ler algo que escrevi?” perguntei.
“Claro.” Respondeu ela gentil como sempre.
                "Esta experiência me tem mostrado que a morte está intrínseca à vida assim como a vida à morte. –Comecei - A vida contém a morte. A cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo ou milésimo de segundo  morremos e, nessa morte está a vida. É como se uma e outra dançassem a mesma música no baile do tempo entrelaçadas e desfrutando uma da companhia da outra. Ambas se co-dependem e uma se vangloria na outra. Não são opostas, como fomos ensinados a crer. São apenas imagem e sombra brincando no carrossel eterno da existência.  Sem a morte não há porque ter vida e sem a vida não existe morte. Essa imagem nublada projetada em nossa mente como o ponto final nada mais é que um refúgio para os cansaços dos viventes. Uma pausa na viagem. Um fôlego antes da batalha."
                “Você descreve aí a dualidade da vida. Não há dia sem noite, alegria sem tristeza, saúde sem doença.” Continuou ela. “O problema é que em nossa sociedade ocidental fomos ensinados o apego. Com o apego vem o amor e com o amor o sofrimento. Esse amor que na verdade não é amor, porque o verdadeiro amor liberta. O amor apego é egoísmo e é doloroso.”
                “Bem, acho que estou progredindo.” Afirmei satisfeita.
                “Tenho certeza que sim.” Confirmou minha sábia terapeuta.
                Quando cheguei em casa procurei pelo pássaro uma vez mais. O encontrei morto sobre o tapete ao lado da cama. Não tinha sinais de ferimentos e ainda estava morno. Seu corpinho frágil estava flexível como se me houvesse esperado para morrer.
                “Veio para morrer perto de  mim.” Pensei. Talvez se tratasse de um pássaro velho ou, quem sabe, estava doente. O fato é que ele queria morrer e veio para morrer perto de mim. Talvez sentisse que eu compreenderia sua partida. E eu sinto que sou a beneficiária de toda esta experiência.
“Será que meu filho veio para morrer perto de mim também?" Me perguntei.
Que imensas lições a vida e a morte nos tem a ensinar. Estamos envoltos neste processo existencial sujeitos a todo tipo de experiência, mas elas somente passarão para nossa alma se forem processadas, aceitas como inevitáveis e somente quando formos capazes de agradecer por elas com sinceridade.
“Eu estou aprendendo muito com o André.” Disse a terapeuta sorrindo enquanto saíamos do consultório naquela manhã. Ela comentava  lembrando a nós duas que esse processo de análise tem a ver com partida dele e sua jornada sobre a terra.

“Eu sei.” -Afirmei orgulhosa- “Ele é muito especial.”